quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Como irritar uma mulher em hora e meia

É de domínio público que as mulheres são, regra geral, seres totalmente irritadiços, capazes de transformar uma pequena gota de água na maior das tempestades, sobretudo quando se lhes estala o verniz. As motivações são habitualmente comuns, as reacções são quase sempre semelhantes… o que varia é a compreensão dos homens.
Há mulheres que perdem as estribeiras perante situações cuja importância só as próprias mulheres parecem entender. Os exemplos são muitos e dos mais variados tipos: aquela cabra horrorosa que acabou de chegar ao casamento do nosso melhor amigo com um vestido igualzinho ao nosso; aquela mala-saia-blusa-pulseira que custa para lá de uma fortuna e que, depois de um mês a juntarmos dinheiro para a comprar, “está esgotada”; o raio do cabelo que não se segura nem com três litros de gel naquela manhã em que estamos tão atrasadas para o trabalho; a estúpida da borbulha que tinha de nascer no meio da testa precisamente no dia em que precisamos de tirar fotos para o cartão de cidadão; a maldita unha de gel que teima em descolar-se a cada cinco segundos enquanto tentamos acabar aquele trabalho no computador que era para ser entregue ontem; a chuva que resolveu cair no exacto momento em que saímos das Finanças e nos preparamos para dez quilómetros a pé até à Segurança Social em cima de doze centímetros de uns sapatos salto-agulha; o parvalhão do namorado/marido/amante que se esqueceu, mais uma vez, daquela data tão importante em que se celebra “um ano, cinco meses, sete dias e vinte e dois minutos” de relação. E o que é que pode ser pior do que passar por uma situação destas? Chegar a casa ainda roxa de raiva, descrever pormenorizadamente o que aconteceu e no fim ouvir da boca do nosso mais-que-tudo: “oh amor, também não precisas de ficar assim”. COMO? Trombas o resto da noite e uma semana de abstinência sexual.
Depois, há as mulheres que se tornam insuportáveis quando a selecção portuguesa de futebol perde aquele jogo tão importante que podia garantir o apuramento directo para o Euro 2012. Após o apito final do árbitro, cigarro atrás de cigarro, o corpo deixa-se ficar no sofá durante pelo menos mais meia hora. O olhar não se desvia nem por um segundo da televisão, o coração continua a bater descompassado, as pernas ainda tremem de tanta carga nervosa acumulada, o estômago embrulha-se até fazer um nó cego, as unhas são roídas até fazer sangue, a água levada à boca para atenuar a secura da inglória parece não querer descer, acende-se mais um cigarro – o último até tentar retomar a vida. Mas voltar à normalidade torna-se difícil. O jantar está servido, a cadeira é arrastada com a mesma lentidão com que a defesa portuguesa se moveu perante os nórdicos, a comida é levada à boca com a mesma ineficácia do ataque português e até o café se assemelha ao golo luso… costuma ser delicioso mas desta vez não sabe a nada. E o silêncio do momento é apenas interrompido pelos gritos que, de tão intensos durante noventa minutos, ainda ecoam na cabeça. AGARRA RUI. CORTA JOÃO. CORRE RAUL. CRUZA NANI. CHUTA CRISTIANO. Os pensamentos continuam no jogo mas o coração vai retomando o seu leve bater, o tremor das pernas já mais não é do que uma leve dormência, a garganta volta a humedecer e até a programação televisiva faz esquecer os segredos de uma exibição futebolística medíocre. E afinal, o que é que pode ser pior do que uma noite de mau futebol? Olhar em volta à procura de compreensão masculina e ouvir da boca do nosso mais-que-tudo (que como qualquer homem se recusa a sofrer menos por futebol do que a sua mulher): “oh amor, também não precisas de ficar assim”. COMO? Trombas o resto da noite e uma semana de abstinência sexual.
As mulheres são assim. Eu só sou metade assim. Porque, sinceramente, estou-me completamente a burrifar para os vestidos, as malas, os sapatos, os perfumes, o cabelo, as borbulhas, as unhas, a chuva, as datas românticas e o caralho a sete. O que me deixa completamente furiosa é que estes parvalhões me percam um filha-da-puta-de-um-jogo tão importante e me obriguem a passar por esta merda deste sofrimento pelo menos mais duas vezes até garantirem (ou não) a presença no Euro 2012.
E pronto, é isto. Eu sou mulher e sou assim, irritadiça! Mas a culpa não é minha… é dos meus pais, que ainda não me davam broa para comer e já me levavam a ver a bola.

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