segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Como mudar de vida em dois meses

Fazer as malas, despedir das pessoas que mais amamos por entre beijos, abraços e muitas lágrimas, entrar no carro e partir... sem olhar para trás!
Há dois meses, foi exactamente assim que fizemos. Com esta mesma simplicidade com que escrevo estas palavras. Com a mesma facilidade? Não. Se tivesse sido, este texto já estaria escrito e publicado desde então. Na verdade, não foi fácil. Mas também nunca ninguém nos disse que seria.
A dificuldade não está em partir, mas sim em deixar a "nossa vida" para trás. As casas onde sempre vivemos, as ruas que sempre percorremos, os locais que sempre frequentámos, a cidade que sempre conhecemos, os carros que sempre conduzimos, as coisas que sempre fizeram parte do nosso dia-a-dia, a língua que sempre falámos e, mais importante que tudo, as pessoas que sempre amámos e que sempre estiveram lá, perto do corpo e do coração. É verdadeiramente assustador chegar a um país com meia duzia de roupas e objectos de higiene pessoal, os telemóveis e os cartões de indentificação. É um vazio enorme na alma. É a sensação de não pertencer aqui. Mas é também o conforto de nos temos um ao outro. Simplesmente assim!!
Os primeiros dias foram um encanto. A descoberta de uma língua que, embora conhecida não estava aprendida, de cidades visualmente tão diferentes das portuguesas, dos espaços verdes, dos locais de venda, dos transportes públicos. Uma verdadeira sensação de férias. Mas os dias foram passando e a consciência de que viemos para ficar foi-se tornando cada vez mais presente em cada despertar. E com ela a necessidade de procurar trabalho, de encontrar casa, de tratarmos de todas as burocracias exigidas para nos tornarmos habitantes luxemburgueses. E mais uma vez não foi fácil, mas também não esperávamos que o fosse.
Aqui, deixámos que a sorte que tanto nos faltou em Portugal nos desse uma pequena ajudinha, e em pouco mais de um mês arranjámos trabalho, conseguimos arrendar um pequeno estúdio, abrimos conta bancária, obtivemos certificado de residência e inscrição na segurança social e finanças... começámos enfim uma vida. Uma nova vida. A nossa vida.
Aqui, tivemos a certeza que não há nada mais importante que a amizade e que há amigos a quem jamais poderemos retribuir a solidariedade e o altruísmo.
Aqui, deixámos que o nosso amor crescesse a cada dia mais e mais e mais... porque só com um grande amor um pelo outro é possivel enfrentarmos juntos, mas sozinhos, as dificuldades que vamos encontrando e as saudades que sentimos.
Aqui temos perspectivado, sem receios, um futuro em família e todos os nossos pequenos sonhos familiares nos parecem possíveis de realizar.
E é por tudo isto que aqui, apesar das saudades que temos da "nossa vida" que deixámos para trás, somos felizes com a "nossa vida" que temos pela frente. É por isto que aqui, no Luxemburgo, somos felizes, muito felizes.

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